domingo, 8 de janeiro de 2012

Resposta à Rossana

Antes de mais não sei se está em Portugal. Se estiver, existem coleiras estranguladoras em qualquer loja de animais ou até Hipermercados. Este tipo de coleiras tem a vantagem de ser ajustável mecanicamente pelo que dão em qualquer raça, se bem que se estiver muito larga temos que ter mais atenção primeiro porque não alargam tão rapidamente e segundo porque é mais fácil para o cão “desembaraçar-se” dela. Mas sem dúvida que é uma mais-valia e que na minha opinião é a melhor opção (ver http://nossofielcompanheiro.blogspot.com/2011/05/coleiras-estranguladoras.html).
Quanto às mudanças comportamentais repentinas, são muito mais comuns do que imaginamos e muito honestamente não acredito no acaso nestas situações. Normalmente há uma situação ou experiência, que na altura se calhar nem reparamos, que faz despoletar isso. Seja uma situação de agressividade de outro cão que muda o comportamento do nosso, seja até um comportamento nosso. Convém não esquecer que os nossos amigos estão normalmente muito atentos a nós e se lhes damos sinais de nervosismo ou tensão eles tendem a ficar no mesmo estado.
Quanto à KIKA, parece-me (e é complicado falar em abstracto sem conhecer a cadela) que é algo territorial. Ela já teve alguma ninhada? Por vezes as cadelas tendem a ficar superprotectoras depois de serem “mamãs” e isso repercute-se na relação que têm com tudo o resto inclusive com os donos.
Parece-me no entanto que é uma situação extrema quando adopta uma postura agressiva perante um dos donos quando está a receber mimo de outro. Normalmente isso é mero ciúme. Formas de minimizar o problema: desde logo não ficar intimidado com a atitude agressiva, a tensão que se gera provavelmente faz com que ela sinta que conseguiu o seu objectivo, isto é, afastar a “ameaça” e continuar a receber festas; a atitude mais acertada (mais uma vez falando sem conhecer o caso em concreto) é com calma e tranquilidade fazerem festas ao mesmo tempo, usando um tom de voz sereno e mostrando que a atitude agressiva não faz sentido. Atenção, ralhar pode ter o efeito adverso de a deixar ainda mais tensa, mas não fazer nada só tenderá a agravar a situação.
Os sinais de agressividade de que fala com outros cães e com pessoas estranhas (rosnar e mostrar os dentes) podem ser mera defesa até dos donos. É importante sentir a cadela e saber se é meramente uma atitude para intimidar ou se de facto, se os donos deixassem, ela atacaria.
A diferença normalmente está nos pequenos gestos, sair antes da cadela é um bom princípio, o ser autoritário é relativo. Isto porque, se a nossa posição não for natural, isto é, se o cão não nos vir naturalmente como líder, tenderá a questionar essa autoridade. Algumas questões: quando está a comer rosna a quem se aproxima? Tem algum brinquedo que não permita que alguém chegue perto? Isto são questões importantes e podem fazer a diferença. Sugestão: quando chegar a hora de comer, chame a Kika mas obrigue-a a esperar um bocadinho sentada ao pé da taça. Se for possível já com a comida na taça. Arranje um novo brinquedo e use-o aproveitando a distracção para pegar no outro e brincar com os dois. Desta forma ela vai entender que quer a comida, quer o brinquedo não são dela e é o líder que permite que tenha acesso a isso.
Quanto ao comportamento com outros cães só mesmo vendo reacções é que poderia sugerir soluções, pelo que acho que o mais indicado é tentar arranjar um treinador que possa ver de perto e tentar resolver isso.
Convém ter em atenção as características próprias da raça (ver http://arcadenoe.sapo.pt/raca/podengo_portugues/146). Pode ler-se neste artigo que é importante que “saibam respeitar o espaço pessoal do cão”, isto significa que é algo territorial pelo que a introdução de “novidades” nos seu “território” deve ser feita com cuidado. Neste caso o Retriever de Labrador é uma boa escolha, se ainda por cima é o cão de sonho, tanto melhor. No entanto, é bom que a Kika não se aperceba disso. Sendo uma cadela por si ciumenta, não irá ver com bons olhos que tudo passe a ser dividido (o mimo, as brincadeiras, a comida) ou seja é fundamental que ela receba muita atenção neste processo. Há cães que simplesmente nunca ultrapassam esta fase e vão rosnar sempre aos seus “companheiros” de casa. Desde que a nova cadela (fica a faltar saber o nome) não fique traumatizada e simplesmente ignore (o que é natural que aconteça mas a vossa atitude é determinante), o ideal é sempre tentar acalmar quando essa atitude mais agressiva aparece, sem nunca, no entanto, ver esse comportamento como aceitável. Tente arranjar duas zonas de conforto que elas identifiquem como delas (duas alcofas por exemplo) e coloque-as perto mas não juntas. Não defina qual é de quem, a Kika sendo a mais velha e aparentemente dominante, em contraste com uma cachorrinha que tendencialmente é submissa, encarregar-se-á de fazer essa definição.
Estando a escolha feita é algo inútil o seguinte comentário mas poderá servir para quem nos lê. Tendo uma cadela em casa, mostre ou não sinais de agressividade, e se quisermos arranjar outro, o ideal é que seja um cão e não outra cadela. O Inverso também é verdadeiro, se temos um cão o ideal é uma cadela. Claro que temos outro tipo de preocupações, como o cio, mas normalmente é uma convivência muito mais pacífica.
No entanto a adaptação, seja em que caso for é sempre fundamental. Tente fazer brincadeiras em conjunto, sem estimular a competição. Por exemplo, se optar por uma brincadeira com bola, use 2, para cada uma ir buscar a sua. É normal que a Kika até largue a que apanhou para ir “roubar” a da Labrador mas cada uma trará a sua e a competição esbate-se.
Tente hierarquizar a comida (nem sempre resulta até porque um cão bebé terá necessidade de maior numero de refeições em menor quantidade, tente que a Kika não se aperceba disso) e tente intercalar entre dar primeiro comida à Kika e depois à Labrador e noutras ocasiões dar ao mesmo tempo (sempre em taças separadas). é também importante, enquanto esse comportamento se mantiver que haja por exemplo duas taças de água.
Espero ter ajudado.

2 comentários:

  1. Muito obrigada pela sua resposta! Eu sei que é difícil fazer uma apreciação da situação sem ver as reacções da KIKA, principalmente porque ela tem um personalidade muito particular: ciumenta, territorial, e nota-se que nuitas vezes questiona a autoridade, mas de ambos os donos...apesar de fazer tudo o que pedimos, às vezes protesta, mas acaba por fazer...
    A questão da demonstração de agressividade com os mimos já tentámos de todas as formas, com carinho, mostrar que não tem necessidade para fazer isso, parar com as festas todas simplesmente e até ralhar...nada funcionou...
    Relativamente à BOO (Labrador) a kika só mostra agressividade quando lhe toca, se passar à frente dela e não lhe fizer nada está tudo bem...mas quando lhe toca...a kika muda logo e ataca mesmo...esta semana, desviei o olhar por um segundo, e quando dei por mim já estava a kika em cima da boo...fui tirar a kika e ela mordeu-me imenso na mão...é um desespero...agora nem as deixo chegar perto uma da outra..mas separá-las também não me parece opção, acredito que elas se tem que habituar uma à outra...este processo é que é difícil.
    Já agora gostava de perguntar como funcionam as suas consultas.

    Obrigada mais uma vez!

    Melhores cumprimentos,
    Rossana Rebelo

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  2. De facto parece-me uma situação demasiado específica para poder ajudar com generalidades. Acho que a única solução é pedir ajuda a alguém.
    Quanto a consultas é coisa que nunca fiz. O que tenho feito nos últimos anos é mesmo treino. Inclui necessariamente alteração comportamental (na maioria dos casos do animal e do dono), mas não só.
    O que normalmente faço quando me contactam é primeiro ver o cão, os seus comportamentos e interacções depois fazer um plano de trabalho, juntamente com um orçamento indicativo e aí o dono decide se quer ou não.

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